Já passava da meia-noite, estávamos bem jantados verdade seja dita, as ideias do Tiago sempre me agradaram, e quando servem para matar aquele bichinho que é a fome, são sempre bem-vindas e têm sempre sucesso. Era um daqueles dias que não há necessidade de desperdiçar uma hora depois do jantar para imaginar alguma maneira original, ou não, de ocupar as longes e demoradas horas da noite. Pois os planos para aquela noite já estavam inventados e bem definidos. Acho que o título é bem elucidativo em relação a estes planos, de maneira, que fico assim dispensado de referir os planos para aquela noite, pois podia cair no risco mais que certo de me estar a repetir.
Findas as diligências características do pós-jantar, instintivamente cada um começou a contribuir para a montagem da mesa de jogo. E ainda não tinha dado tempo para o jantar chegar aos intestinos, já estava tudo sentado à volta da mesa escolhida para aguentar peso das cartas e das conversas 6 ricos-homens.
Entre caras de quem tenta encarnar as personagens enigmáticas e perspicazes dos filmes de poker, e outras de quem procura entre os presentes alguém que se disponibilize para lhe dar umas luzes sobre as regras daquele jogo, estávamos todos preparadíssimos.
O jogo começa como era de esperar, de um lado da mesa apostas baixas, e do outro, gajos que atiravam para o meio da mesa, uma espécie de moedas de plástico, cujo significado era-lhes absolutamente desconhecido, de forma completamente aleatória. E ao canto da mesa, o Bernardo numa tentativa desesperada de agarrar as cartas, mas sem dedos é complicado, e acabou por desistir. A primeira jogada é ganha pelo Palma, tal como as outras todas, mas não quero perder tempo com informação desnecessária, é claro que o Palma ia ganhar aquilo tudo. Começa a segunda jogada, e o Pinheiro faz um bluff monumental. O Pedro Gémeo (é verdade o Pedro Gémeo estava lá) não vai no bluff. Mas quando começa a chover em cima do aquário, o Pedro Gémeo hesita, e dá-se por vencido. Foi uma jogada tão vergonhosa para o Pedro, que este viu-se obrigado e ir-se esconder no sótão.
Começa a terceira jogada, com o Pedro coberto em sujidade, tal fora a vergonha da mão anterior. E aqui é que as coisas começam a complicar. Até então, era fácil ler as caras dos jogadores, mas, com o inicio da terceira vasa, esta tarefa tornou-se impossível. Era perda total de tempo, tentar ler o que quer que fosse nos traços do parceiro do lado, parecia quase que tinham apagado as luzes. Mas continuou-se a jogar. Às páginas tantas o Casimiro ganha uma jogada com um royal straight flush! Depois de explicarmos-lhe que ele tinha ganho, os seus olhos, ganharam aquele brilho de quem se encontra numa noite de temporal à luz de uma vela. E foi impossível conter o seu desejo de comemorar tão heróica e trabalhosa vitória. Assim que se convenceu que tinha ganho, abriu logo a melhor garrafa da casa… pena que no meio do chão. Mas também não pode correr tudo bem.
Depois disto não há muito mais a relatar, tirando uma perfeita jogada de bluff do Casimiro com 4 cigarros. Foi um bluff clássico até ao terceiro, mas aquele quarto! Foi o chamado bluff invertido, técnica muito elaborada em que o sujeito tenta enganar o cigarro que o vai fumar. Também funciona muito bem com cenouras. E conheço umas raparigas e a executam de forma espectacular.
Foi uma noite bem passada, espero poder voltar repeti-la brevemente. Bernardo… força nisso pá! Eu agora também estou sem unhas e é uma aflição eu sei como é. Abraço.
pmp
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