segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

I can't take my eyes off you.

Lembras-te de quando jogávamos às escondidas. Tenho medo de te perguntar, podias dizer que já não te lembras. Mas nunca achei o jogo justo sabes? Claro que nunca discuti este assunto com ninguém. Nem sequer me atrevia a pensar muito nele, pois já na altura percebia que existem coisas que não devemos questionar muito.

Era fazer rapidamente uma listagem das consequências que poderiam surgir se eu partilhasse esta minha ideia, de que as regras das escondidas não estavam bem pensadas, com alguém, e chegar rapidamente aquela que podia ser muito bem: todos, ou parte suficiente do grupo, concordassem comigo, e deixassem de querer jogar ao jogo. E isso era um cenário que não me agradava de maneira alguma.

Mas agora que já não jogo contigo, aquilo era injusto. Eramos 20... mais ou menos sempre 20. O coitado que estava a contar, o que ficava de castigo a ter de encontrar os outros, e registá-los no coito através de uma cantiga, que tinha de ser dita exactamente como as regras ditam, sob pena de ser invalidada a captura da pessoa em questão. Esse coitado tinha tudo contra ele.

Porque, não sei se te lembras, tinhamos de apanhar o último, se o ultimo a ser encontrado conseguisse salvar-se, salvava todos. Esta é a parte que não me cabia na cabeça. Quando eu encontrava uns tantos, e o 20 salvava aquilo tudo. E tinha de te ver a ir embora mais uma vez, sabe-se lá com quem, sabe-se lá para onde, enqunto fechava os olhos, fingindo não querer saber.

Nunca o fiz, espreitava sempre enquanto contava, para ver-te correr. Mas nunca te apanhava primeiro. Só depois. Porque o primeiro a ser apanhado era o que, se o último não conseguisse salvá-lo, ficava a contar na próxima.

Mais uma regra da qual não concordava. Eu é que devia poder escolher quem é que ficava a contar. Já que não podia escolher com quem fugir. Quer dizer. Neste ponto o que me impedia de fugir com certa pessoa não eram as regras. Mas o facto de não ter herdado umas pernas que soubessem correr tão bem, como as tuas.

Mas lembras-te? Eu também não me lembro de tudo. Já correu muita àgua. Mas gosto de pensar, tem dias sabes... Acho que nunca me apanhás-te... não sei se procuravas. Porque eu sempre soube esconder-me bastante bem. Nunca me encontravas. Talvez se tivesses procurado melhor, tinhas conseguido. Quem sabe uma vez... e mais uma, e outra. Se calhar se eu não me tivesse escondido tão bem.



pmp

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