quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Num mundo aparte

-Vai à tropa e faz-te homem, diziam eles.
-Faz algo pelo teu pais. Gritam eles nos dias da defesa nacional.
-Tu que tens o 12ºano, o que queres fazer a seguir? Vais para a faculdade? E tens bolsa? Perguntavam eles.
-Pois, não consegui a bolsa. Disse eu
-Junta-te a nós e torna-te Sargento. Vais ser respeitado e dar-te ao respeito o resto da tua vida. Afirmavam eles.

Foi assim que começou a minha aventura militar há uns bons anos atrás. Sem dinheiro para estudar. Sem experiência para ter um cargo com um pouco mais de condições no mundo merdoso que nos cega que é o mundo do emprego.
Alistei-me como contratado no Exercito. Uau, vou ser Sargento e os Praças vão ter que me fazer continência.
Lá fui eu, o meu primeiro dia de recruta. O primeiro dia de pura diversão. Vai ser o máximo pensei eu.
Esse pensamento mudou radicalmente no segundo dia. Acordar às 6 fazer a cama, fardar com as botas engraxadas e formar na parada ás 7 para ir tomar o pequeno almoço. Ás 7 e 30 começou a dureza. Cortaram-nos o cabelo à maquina. Fodasse...já devia estar a espera dessa. Deram-nos uma arma para a mão, a espingarda automatica G3. Uma ferramenta mortífera que causa terror. Demos um pequeno passeio, todos formados e disciplinados, até ao outro lado do quartel passando um túnel por baixo da linha de comboio que passava directamente pelo meio da área de exercícios militares, que ia dar a um portão de uma área de mato muito grande. O soldado que estava no portão abriu-o e lá ia-mos nós. Exercício físico com altos berros a dizer como nojentos e repugnantes nós éramos. Corremos vários quilómetros pelo mato em pleno verão alentejano. Sim, estavam 34ºC ás 10 da manhã e o 11ºpelotão a suar que nem porcos. Fazíamos flexões de pernas com a G3 nas mãos e os braços estendidos para a frente. Os gritos não paravam. "Vocês são uma merda. Não valem nada" Os braços doíam e se deixasse descai-los estava o lixado.

Depois de um almoço nojento tivemos instrução militar. Essa merda ainda era pior que o exercício físico.
Basicamente aprendíamos nesses mesmo mato, técnicas de matar melhor o inimigo. Fodasse, inimigo? Mas que inimigo?

Mas nada disto se compara ao maior pesadelo dos recrutas.
A GAM. Ginastica de Aplicaçã0 Militar ou Ginástica até à Morte como os recrutas o chamavam.
Jamais vi algo mais desumano que aquela merda.
Senti-me humilhado ao rastejar pela lama e tentar apanhar um dos instrutores que estava de pé a fugir e a dar-nos pontapés leves nas costelas e a rir-se.

Fodasse, o quê que estou aqui a fazer, caralho? Eu sou melhor que esta merda! Não preciso disto. O ser-humano não tem que passar por esta porcaria. Isto é para os ignorantes que andam de Punto GT e ouvem Kizombada que querem medir a pilinha com os outros.
Eram estes os pensamentos que me passavam pela cabeça todos os dias. E todos os dias me lembrava que tenho de tirar o meu curso. Não havia dia que não pensava em desistir daquilo. Eu sei que podia desistir e ir para casa mas se desisti-se assim tão facilmente, provavelmente durante o resto da minha vida irei fazer o mesmo. Se comecei, tenho de acabar. ANIMO CARALHO...

Os fins-de-semana passava a dormir de tão exausto que estava.
Notai na minha família um certo carinho mais especial. Eu chegava a casa todo arranhado e com nódoas negras. Tinha os joelhos cheios de feridas e a farda toda suja de lama, pó e suor. É claro que eles cuidavam de mim de uma forma mais atenciosa. Enfim.
O pior dia para mim eram os Domingos. Quando estava em casa, confortável no sofá e ter uma refeição digna de um ser-humano e só de pensar que daqui a umas horas tinha de voltar para o Alentejo e fazer tudo aquilo outra vez, deixava-me deprimido e doente. Com medo. Ataques de ansiedade e de pânico. Ahhhh não quero iiiiiir.

Fodasse, eles eram tão burros que até metia pena. Tanta ignorância concentrada num só sitio só. A tropa é basicamente constituída por por pessoas são qualquer tipo de cultura ou de senso-comum. Eram pessoas limitadas com que começar uma conversa era um desafio a sobrar.
Formação de hierarquias militares. Era um dos sargentos a dar essa formação. Burro do caralho...só dizia merda. Merda essa que lhe meteram na cabeça. Enfim. O gajo vira-se e diz :
- Em Portugal nos tempos modernos só houve um Marechal. Alguém sabe?
Uau, esta merda é historia e eu sei. E lá respondi que foi o Ramalho Eanes, antigo PR. Não é que o cabrão, repete aquilo que eu disse e vem com a celebre frase de
-"UM GRANDE HOMEM"
Fodasse, um grande homem? Foi um dos piores Presidentes da Republica que já tivemos! Parou o cérebro a este gajo? Só sabem ver o que lhes metem a frente.

Mais foda no corpo.
Rastejar por cima de silvas. Ui, ya...dá-me mais que eu gosto.

Instrução nocturna.
Uma breve visita ao lago dos cisnes. Acreditem que o lago não tinha nada de bonito. Aquilo era uma gigantesca poça onde os restos da cozinha iam parar. Um mergulho no lago e toca a rastejar. Lá estava eu, a rastejar na merda ao meio da noite. Os mosquitos não nos largavam. Eram milhares e metiam-se em todo o lado.
Continuei a rastejar e a nadar até sentir uma bota em cima do capacete a fazer força para baixo. Lá fui eu com a cara direito aquela sopinha boa. Maravilhoso.
Fodasse, não aguento mais isto.
Vou embora.

Depois do mergulho refrescante voltamos para a caserna.
Nunca vi tal coisa como vi naquela noite.
Rapazes, homens feitos. Maiores e mais velhos que eu de outros pelotões a chorarem de saudades de casa, de desespero ou dos nervos.
Houve um que flipou totalmente e andou aos muros e aos pontapés ás paredes e a gritar que queria ir embora. Tiveram que ser três a agarra-lo para se acalmar.
Eu fiquei simplesmente sentado no chão da casa de banho, todo sujo a pensar como é que isto é possível numa civilização que se diz tão evoluída e civilizada.
Pensei em tudo e mais alguma coisa.
Sentia-me um prisioneiro. Uma marioneta do sistema para ir a guerras para alimentar interesses da Elite Global.
Eu era um verdadeiro boneco de trapos nas mãos deles.
Sem liberdade, sem identidade, apenas carne para o canhão de um sistema podre e nojento.
Eles diziam que temos de combater o inimigo.
Matar ou ser morto. Não entendo porquê deveria de considerar outra pessoa de inimigo. Pessoa essa que nem sequer conheço?
Matar?
Matar o pai de alguém?
Um filho de alguém?
O amor da vida de alguém?
Matar outra marioneta da elite global?
Para quê?
Para alimentar a industria bélica?
ara subir os valores da bolsa?
Por um recurso natural?
Por poder?

Essa elite global quer fazer de nós os seus prisioneiros. Tiram-nos a capacidade de pensar para alem daquilo que vemos.
Bombardeiam-nos com programas de TV desmiolados que transformam os nossos cérebros em diarreia. Dão-nos noticias falsas para temermos o pior. Criam crises não existente. Terrorismo que falso só para dar continuação aos seus planos maléficos, porque um povo com medo é um povo que se deixa controlar melhor.

Eu pensei em tudo. Até no sistema de juros ilegalmente legal dos bancos centrais. Pagamos juros de dinheiro que não existe.
Ou seja, só existe no mundo todo 10% do dinheiro físico que circula pelo planeta.
Os outros 90% são chegues, vales e cartões de credito. É dinheiro virtual. Dinheiro esse que não existe.
Os ordenados das pessoas não passa de um numero num computador e se um dia colapsar, iremos ter um problema.
Por exemplo, se quuerem um empréstimo de 20 mil euros. Esse dinheiro não sai dos cofres do banco. São números de um computador que são injectados nos cartões de credito. Quando bater no cartão começam a pagar por esse dinheiro fantasma, que são os juros.
Esses juros irão ser usados para fazer novos empréstimos. Assim os bens do banco aumentam e nem uma unica moeda ou nota foi criada.
Os bancos são a maior identidade criminal deste planeta e o melhor...é legal...fodasse.
Se os governos imprimissem todo o dinheiro do mundo, e emprestassem com uma taxa de juros mais baixa os bancos privados iriam a falência por que não podiam emprestar aquilo que não tem.
Os produtos e bens iriam baixar de preço porque por trás dos produtores e empresas não existia a maquina de juros.
Haveria tanto dinheiro físico em circulação que podia acabar com a fome e a miséria no mundo. O dinheiro voltava a ser aquilo para que foi inventado, um meio de troca honesto.
Os juros só enchem os bolsos a bancos e não as economias e governos. Se o sistema for alterado os únicos a perder será a Elite Global e os seus bancos.
Em toda a historia houve dois Políticos que queriam mudar isso. Dois Presidentes dos EUA. Abraham Lincoln e John F. Kennedy. Acho que não preciso de dizer mais nada.
É uma forma de "dinheiro" para fazer dinheiro e ganhar poder. Porque melhor que dinheiro é o poder.

Poder...é isso.

Enquanto estava ali sentado lembrei-me que isto tudo não é só pelo dinheiro mas sim pelo poder.
Estes instrutores excitavam-se sexualmente com o poder que eles tinham sobre nós os recrutas. No mundo real não são nada. São uns falhados.
É claro que ninguém via isso aqui da mesma forma que eu e já vou explicar porquê.

Levantei-me e fui tomar banho. O gajo que flipou estava mais calmo. Encostado a um lavatório cabisbaixo. Mas via-se ainda as lágrimas dele a escorrerem-lhe pela cara suja de lama.
Seres humanos com sentimentos, sonhos, paixão e amor a serem transformados em mutantes maquinas assassinas para servir os Senhores cujo filhos vão para faculdades privadas de Ferrari.

Ahhhh, agua quente. Maravilha relaxante.
Não pensei em mais nada.

Voltei para o quarto e mal chego lá o tema de conversa era qual a gaja mais boa dos Morangos com açúcar. Fodasse...mas o quê é isto?

Chegou o dia do juramento de bandeira.
.Era hoje, o dia mais feliz de um militar. Não me sentia nada feliz.
A pátria deixou de ser aquilo que era para mim.
Jurei derramar sangue pela nação nem que custasse a minha vida.
Eu fiz figas quando jurei.

Já não falta muito e acabo a recruta.
O pior ainda estava para vir.
A Semana de campo. Não vou aprofundar muito.
Basicamente andamos o dia todo. Montamos a tenda e combatemos o "Inimigo" imaginário. Em 4 dias dormi 2 horas.
O homem não foi feito para isto.
Isto é para os estúpidos que se acham os maiores.

Acabei...sou da classe dos Sargentos.

Uau, que orgulho pensavam e diziam os poucos que sobraram do meu pelotão.
Muitos desistiram. Tiveram mais coragem que eu.
Despedi-me dos meus camaradas, dos instrutores e fui para o carro.
No caminho até lá, praças mais velhos que eu fazia-me continência.
Era isso que eu queria no inicio mas agora...eu só queria que eles não o fizessem. Neste mundo somos todos iguais, estamos é mentalmente destreinados para assumir o tão especial que cada um de nós tem em si. Eles querem-nos fazer de pequenos e insignificantes mas somos o contrario disso.
O ser-humano é o animal mais belo a face da terra.
Está é adormecido.

ACORDA

4 comentários:

Nemesis disse...

POis... ja tive assim num sitio... só o nome é que mudava... chamava se NATURA o meu :S

lol

Casimiro dos Plásticos disse...

Estás a falar daquela Natura que tem o Urso do PMP à porta?

Nemesis disse...

nem mais.... se conheceres algum suicida, manda o para la trabalhar :D

Anónimo disse...

Excelente texto